As Especiarias

 Especiarias era o nome que se dava a certas drogas medicinais (usadas como remédios), produtos aromáticos (usados como perfumes), artigos exóticos, estimulantes ou curativos vindos do Oriente. Imagine produtos capazes de encantar, durante séculos, milhões e milhões de pessoas do mundo inteiro. Imagine, produtos que enriqueceram comerciantes, reis e Impérios, despertando a cobiça e provocando guerras. Produtos que de tão raros e caros, eram enviados como presentes a Imperadores e papas. Produtos que fizeram muitos homens abandonarem suas famílias e países, em longas e perigosas viagens por terra e por mar, a fim de encontrá-los.(...) As especiarias no mundo antigo Antes de entrar na cozinha, como tempero de alimentos, as especiarias foram utilizadas nos templos e nos rituais religiosos. Nos templos egípcios, serviam para tornar o ambiente perfumado, ou misticamente enfumaçado, e para temperar as comidas oferecidas aos deuses, principalmente as carnes. Até hoje os incensos são usados por fiéis de diversas religiões como uma forma de comunicação com as divindades Na Antiguidade, o comércio de especiarias percorria longos caminhos. Por terra e por mar, esses produtos circulavam pelo Extremo Oriente, Mesopotâmia, Palestina e Egito. Também nos impérios grego e romano, inclusive em Atenas e Roma, as especiarias circulavam. Os gregos antigos valorizaram muito as especiarias: empregavam várias delas como remédios e usavam na cozinha ervas, como louro e cominho. O historiador Teodoro de Sicília, no século I a.C., descreveu um impressionante ritual funerário, em que o cadáver de um nobre era embalsamado* com especiarias, para que ficasse limpo, perfumado e conservado. Quando eles se reúnem para tratar um corpo, assim que este está aberto, um deles enfia a mão pela abertura do cadáver até o tronco e extrai tudo, menos os rins e o coração. Um outro limpa cada víscera, lavando-a com vinho de palmeira e com especiarias. Eles cuidam muito bem do corpo inteiro durante mais de trinta dias, primeiro com óleo de cedro [...] e, em seguida, com mirra, canela e com especiarias tais que elas têm a capacidade não apenas de preservar o corpo por um longo período, mas também de dar a ele um odor perfumado. (...)
O valor medicinal das especiarias Desde tempos antigos, antes mesmo de serem usadas como temperos, as especiarias foram empregadas para curar. Os curandeiros as utilizavam como amuletos, para proteger as pessoas de mau-olhado e de doenças; também as receitavam como cicatrizantes e revigorantes. Muitas especiarias eram queimadas para purificar o ar, livrando-o de doenças e energias negativas. Outras eram usadas em cataplasmas** , para aliviar a dor ou o mal-estar das pessoas. Embora as qualidades terapêuticas***de algumas especiarias não sejam cientificamente comprovadas, o fato é que até hoje o seu uso medicinal é muito difundido. A noz-moscada, por exemplo, foi usada na Antiguidade como perfume e para mumificar**** cadáveres; desde a Idade Média (séculos V a XV) também funcionou como remédio. Misturada a unguentos*****, gordura ou polpa de maçã daí a origem da pomada, palavra que veio de "pomo", isto é, "maçã"), a noz-moscada era esfregada na pele, para aliviar dores. Na América, os índios já usavam o pimentão para curar infecções intestinais e, queimando-o, para espantar mosquitos. Especiarias Usos medicinais na história Cravo Mau hálito Canela Diarreia Cardamomo Tosse Gengibre Afrodisíaco Pimenta Hemorragias Noz-moscada Dores
*Embalsamar: injetar em um cadáver substâncias que impedem sua decomposição.
**Cataplasma: Papa feita de medicamentos que se aplica, entre dois panos, a uma parte do corpo dolorida ou inflamada.
***Terapêutico: Curativo, que cura.
****Mumificar: Converter em múmia.
*****Unguento: Remédio de consistência rala, para uso na pele, que tem por base alguma gordura.

 Trecho do livro AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias. São Paulo: Atual, 1999. p. 45.
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